quarta-feira, 7 de abril de 2010

(I)Mobilidade II



Este rabisco não pretende ocupar o espaço dos legítimos portadores do poder de decisão, nem sequer ambiciona fazer parte do coro incessante daqueles que, de forma incontinente, propagam ideias estupendas e prioritárias para a cidade, como se não houvesse amanhã, desejosos que Aveiro termine na Av. Dr. Lourenço Peixinho, logo desconhecendo que Aveiro tem um dos piores serviços de transportes urbanos do País.

A frota da empresa municipal de mobilidade é constituída por unidades envelhecidas, degradadas e com índices de segurança que fundamentam as reservas que nós, utentes, mantemos em relação às inspecções periódicas a que estas, supostamente, estão sujeitas. Uma observação empenhada destas viaturas aconselharia a redução da frota em dois ou três mini-bus e um autocarro que, na maioria das vezes, e bem, está direccionado para o serviço escolar. As restantes deixam sérias dúvidas a quem, como eu, os utiliza diariamente.

Mesmo considerando que as viaturas estejam nos limites legais, constatamos que a empresa presta um mau serviço, comparativamente com Coimbra, Lisboa e Porto. Aos que ficaram surpreendidos com esta confrontação, permitam-me recordar que Aveiro é Capital de Distrito, sede de uma das dezasseis universidades públicas do País, um meio académico que mobiliza cerca de quinze mil pessoas, mais mil, menos mil. Restituída a ordem de raciocínio, acrescento que os preços praticados em Aveiro são mais elevados, não só na tarifa de bordo, mas também no módulo mais utilizado pelos trabalhadores e estudantes das freguesias periféricas – a assinatura mensal. A título de exemplo, nos STCP do porto, o bilhete adquirido no autocarro custa 1,45 €, na Carris, em Lisboa, 1,40 €, nos SMTUC, em Coimbra, 1,50 € e em Aveiro 1,75 €. Em relação aos passes sociais, os desequilíbrios subsistem, embora, aqui, a diferença encontra-se, principalmente, nas inúmeras opções de títulos intermodais e combinados. É claro que, para se usufruir desta diversidade, é necessário ter transportes alternativos para “combinar”. Nas cidades supraditas existem opções para quase todas as realidades geográficas e sociais, um catálogo de recursos que proporcionam, realmente, a tal mobilidade, sendo que, de entre elas, Coimbra é a que está mais próxima da realidade aveirense.

Passando o olhos pelos objectivos enunciados no portal da empresa MOVEAVEIRO, e se considerarmos que a sua intervenção no transporte fluvial teima em culminar num Ferry permanentemente avariado e adiado, verificamos que nenhum deles está a ser cumprido.

Em circunstâncias normais, não cometeria a ousadia de gatafunhar sobre realidades que só estão ao alcance dos doutos guardiões deste concelho. Mas como ando de autocarro por opção e pago os meus impostos, permitam-me que sugira que, em vez de gastarmos o nosso dinheirinho na realização de fóruns para projectar a construção de um Metro de superfície em Aveiro, daqui a quarenta anos, ou de se gastar montantes consideráveis em campanhas de marketing, que visam convencer os aveirenses a andar a pé ou de bicicleta, abdicando dos seus veículos com motorizações acima das 2000 rpm, invistam na melhoria da frota da Empresa Municipal de Mobilidade, preferencialmente com energia limpa e tarifário mais apelativo, porque já amanhã temos que ir de autocarro, trabalhar.

terça-feira, 6 de abril de 2010

(I)Mobilidade



É normal que, de vez em quando, nos libertemos da letargia mental e comecemos estes processos de questionamento e de reflexão sobre as coisas públicas.

Aveiro, frequentemente chamada de Veneza de Portugal, recebeu um novo epíteto: Amesterdão Lusitana. Este novo cognome está associado, não só aos maravilhosos canais da capital holandesa, mas também à tradição que a mesma acolhe em relação ao uso da bicicleta. Se a analogia em função dos canais vai sendo aceitável, já a comparação resultante da tradição do uso da bicicleta é, no mínimo, quixotesco, considerando que a capital holandesa regista o primeiro lugar europeu, com uns assombrosos 40% do total de tráfego da cidade. Esta percentagem é a mesma no resto do território Holandês, a uma razoável distância da Dinamarca, com os seus ambiciosos 23% e a anos luz de países como a Roménia e Bulgária que, apesar de uns esforçados 5%, ainda se encontram longe da média de 10% da União Europeia a 27. Portugal tem 1%. Repito 1%, sendo os dados referentes a 2007. Estas percentagens não se referem ao nível de utilização das bicicletas que o Estado coloca à disposição dos utentes, mas sim a percentagem efectiva do tráfego que se realiza com bicicletas.

Será que basta construir ciclo vias, espalhar cartazes, recolher e reconverter bicicletas usadas, para se conseguir um índice de utilização efectivo desta envergadura? No cenário actual, suspeita-se que a sociedade portuguesa não conseguiria estas percentagens, nem que houvesse incentivos monetários directos à utilização da bicicleta. Em Aveiro, capital do Distrito e sede de uma das dezasseis universidades públicas do País, continua-se a circular nas zonas da baixa e nos locais históricos, sem restrições e sem um conjunto de medidas verdadeiramente dissuasoras.

Qualquer pessoa, mesmo com elevados níveis de inocência, já percebeu que a BUGA é um projecto falido, não em relação à ideia, que é louvável e desejável para o futuro das cidades, mas porque colide com a mentalidade auto mobilizada dos portugueses.

Quando se diz que, em Aveiro, subsiste uma tradição no uso quotidiano das bicicletas, factor importante para a implementação do projecto, è verdade, mas, essa utilização, é essencialmente residual e periférica, precisamente na extensão de território concelhio onde o projecto não foi implementado. É bem provável que continuemos a verificar um aumento dos níveis de utilização da BUGA… durante o dia mundial sem carros, sob os protestos calados dos comerciantes da Avenida.

Rui Alvarenga