terça-feira, 6 de abril de 2010

(I)Mobilidade



É normal que, de vez em quando, nos libertemos da letargia mental e comecemos estes processos de questionamento e de reflexão sobre as coisas públicas.

Aveiro, frequentemente chamada de Veneza de Portugal, recebeu um novo epíteto: Amesterdão Lusitana. Este novo cognome está associado, não só aos maravilhosos canais da capital holandesa, mas também à tradição que a mesma acolhe em relação ao uso da bicicleta. Se a analogia em função dos canais vai sendo aceitável, já a comparação resultante da tradição do uso da bicicleta é, no mínimo, quixotesco, considerando que a capital holandesa regista o primeiro lugar europeu, com uns assombrosos 40% do total de tráfego da cidade. Esta percentagem é a mesma no resto do território Holandês, a uma razoável distância da Dinamarca, com os seus ambiciosos 23% e a anos luz de países como a Roménia e Bulgária que, apesar de uns esforçados 5%, ainda se encontram longe da média de 10% da União Europeia a 27. Portugal tem 1%. Repito 1%, sendo os dados referentes a 2007. Estas percentagens não se referem ao nível de utilização das bicicletas que o Estado coloca à disposição dos utentes, mas sim a percentagem efectiva do tráfego que se realiza com bicicletas.

Será que basta construir ciclo vias, espalhar cartazes, recolher e reconverter bicicletas usadas, para se conseguir um índice de utilização efectivo desta envergadura? No cenário actual, suspeita-se que a sociedade portuguesa não conseguiria estas percentagens, nem que houvesse incentivos monetários directos à utilização da bicicleta. Em Aveiro, capital do Distrito e sede de uma das dezasseis universidades públicas do País, continua-se a circular nas zonas da baixa e nos locais históricos, sem restrições e sem um conjunto de medidas verdadeiramente dissuasoras.

Qualquer pessoa, mesmo com elevados níveis de inocência, já percebeu que a BUGA é um projecto falido, não em relação à ideia, que é louvável e desejável para o futuro das cidades, mas porque colide com a mentalidade auto mobilizada dos portugueses.

Quando se diz que, em Aveiro, subsiste uma tradição no uso quotidiano das bicicletas, factor importante para a implementação do projecto, è verdade, mas, essa utilização, é essencialmente residual e periférica, precisamente na extensão de território concelhio onde o projecto não foi implementado. É bem provável que continuemos a verificar um aumento dos níveis de utilização da BUGA… durante o dia mundial sem carros, sob os protestos calados dos comerciantes da Avenida.

Rui Alvarenga

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